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Início
Núbia estava satisfeita e feliz. Depois de uma
misteriosa doença, sua prima, a rainha Velma,
havia sucumbido. E ela sabia do que se tratava,
fora ela quem, diariamente, pingara gotas de
um poderoso veneno nas refeições da soberana.
O caso amoroso que mantinha com o rei Alberto
finalmente teria um final feliz. Para ela, claro!
Mal pode conter a alegria quando foi notificada
da morte da prima. Fez um tremendo esforço
para derramar algumas lágrimas durante o
féretro, porém seus pensamentos fervilhavam,
imaginava os detalhes de sua coroação. Havia o
período de luto de no mínimo três meses, mas
isso era de menos, Alberto estava totalmente
apaixonado e faria de tudo para casar-se com
ela o mais rápido possível. Aí sim, a glória e o
poder que sempre foram daquela tonta seriam
dela para frente. Várias vezes tivera que cobrir
o rosto com seu lenço negro para que ninguém
percebesse o sorriso de satisfação que aflorava
em seus lábios. Terminadas as exéquias, Núbia
procurou pelo amante para dizer-lhe que estava
pronta para ser sua nova mulher, esperariam o
luto oficial e poderiam começar os preparativos
para o casamento e coroação. A reação de
Alberto fez seu coração gelar:- Núbia foi você
que matou minha mulher? Negou
peremptoriamente. Ela jamais teria coragem de
fazer qualquer mal à sua prima, mesmo amando
seu marido, pelo contrário, perdera noites de
sono para permanecer à cabeceira da doente.
Como podia ele pensar isso dela? - Núbia! -
Alberto estava gritando - A casa tem criados,
será que você é tão imbecil que não percebe que
eu descobriria? O desespero tomou conta da
mulher, sentiu que a situação havia fugido de
seu controle. Jogou-se aos pés do homem
implorando perdão: - Eu te amo demais, não
agüentava mais ficar longe de você! As lágrimas
corriam livremente. - Ela não te amava, sou eu
que o amo! Sem pestanejar, Alberto chamou
pelos guardas palacianos e mandou que a
levassem a ferros para o porão do castelo onde
ficaria até que ele decidisse o que fazer.
Durante três anos permaneceu presa. Chorava
muito e amaldiçoava a todos. O pior, porém era
o fantasma de Velma que todas as noites a
visitava. A imagem da rainha surgia ricamente
vestida e a olhava com piedade balançando a
cabeça em sinal de desaprovação. Nesses
momentos os gritos que dava ecoavam pelos
corredores do palácio. Da bela e arrogante
mulher, nada mais restava. Tornara-se um trapo
humano. Um dia veio o golpe fatal. A criada que
lhe trazia as refeições informou-lhe que o rei
havia anunciado seu casamento com uma jovem
duquesa. As horas que se seguiram a essa
descoberta foram de horror, a imagem da rainha
falecida permaneceu sentada no fundo do
cubículo e não desviava o olhar tristonho de
acusação. Num acesso de fúria avançou sobre o
espectro. Debilitada, tropeçou nas próprias
vestes e caiu batendo a têmpora na pedra onde
Velma estivera sentada. Seu espírito vagou por
anos. Aprendeu muito e descobriu que havia sido
rainha em outras encarnações, mas que nunca
fora exemplo de bondade ou compaixão. Como
Maria Padilha das Sete Encruzilhadas, readquiriu
o porte majestoso de antigas vivências e segue
em busca de evolução. Sempre que está em terra
lembra que há muito a aprender, mas que tem
muito a ensinar. Laroiê as Pomba-giras!
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